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Notícias > 20 Outubro 2024

Caminho de Santiago – uma peregrinação cada vez mais espiritual, mas não necessariamente religiosa


Rachael Sanborn, norte-americana e aventureira de espírito, encontrou no Caminho de Santiago uma forma de se reconectar consigo mesma e de transformar a sua vida. Após atravessar um período difícil, decidiu seguir os passos do seu pai, que havia feito a peregrinação anos antes, e embarcar nesta viagem espiritual em Espanha. Esta jornada não só a ajudou a ultrapassar as suas dificuldades pessoais, como também a levou a regressar repetidamente ao Caminho. Hoje, com 45 anos, Sanborn é uma guia experiente que organiza caminhadas meditativas e de luto no Caminho de Santiago através da sua empresa, Red Monkey Walking Travel. Embora tenha sido criada com influências do budismo tibetano, cristianismo e judaísmo, ela acredita que o Caminho oferece algo especial para pessoas de todas as crenças.

Tradicionalmente uma rota católica que culmina na Catedral de Santiago de Compostela, onde se acredita estar sepultado o apóstolo Santiago, o Caminho de Santiago tem atraído cada vez mais pessoas de diferentes religiões e até aquelas que se identificam como “espirituais, mas não religiosas”. Em 2023, cerca de meio milhão de pessoas percorreram o Caminho, e segundo as estatísticas da Oficina del Peregrino, cerca de 40% fizeram-no por motivos puramente religiosos. No entanto, muitos outros são atraídos por razões seculares, como a busca por bem-estar, a superação de um luto, ou simplesmente pela curiosidade cultural e histórica.

Esta mistura de motivações seculares e religiosas reflete uma tendência crescente para o que é chamado de “espiritualidade secular”, em que práticas tradicionalmente religiosas, como a meditação e o retiro espiritual, são recontextualizadas em moldes não religiosos. Para muitos, o Caminho de Santiago é uma oportunidade de auto-descoberta, onde a disciplina, típica da prática religiosa, se cruza com a superação física e emocional. É uma experiência oferece tanto ensinamentos espirituais como lições de vida práticas, como a necessidade de “aliviar a carga” – tanto física, ao levar menos pertences, como emocional.

No entanto, para especialistas como Liz Bucar, autora e investigadora em ética religiosa, a peregrinação tem um valor maior quando se envolve plenamente com o seu contexto religioso e alerta que a busca por experiências transformadoras rápidas, sem uma compreensão profunda da tradição religiosa, pode reduzir o impacto da peregrinação. Ela acredita que o verdadeiro valor espiritual do Caminho está intrinsecamente ligado à sua história e ao cristianismo, que moldou o percurso ao longo dos séculos.

Ainda assim, Sanborn argumenta que o Caminho tem algo a oferecer a todos os peregrinos, independentemente das suas crenças ou motivações. Para ela, embora o cristianismo seja fundamental no Caminho, é igualmente importante reconhecer tanto o seu lado inspirador como os momentos mais sombrios da história religiosa que o rodeia, pois oferece uma experiência única que desafia expectativas e proporciona uma ligação profunda com algo maior, seja espiritual ou não.

O Caminho de Santiago continua a ser uma rota poderosa e transformadora, que une o espiritual e o secular, atraindo pessoas de todo o mundo e de todas as crenças. Seja por motivos religiosos, espirituais ou simplesmente pessoais, esta peregrinação oferece uma oportunidade única para cada indivíduo se redescobrir e encontrar o seu próprio caminho, tanto física como emocionalmente.

 

FONTE: Associated Press